Motoboys na folha de SP, 25 de Junho de 2007
Image by abaporu
Folha de S. Paulo, p. C4, SEGUNDA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2007
"A alegria durou pouco. Foram
apenas cinco dias entre a
estréia da instalação canal*
MOTOBOY, no Centro
Cultural São Paulo (CCSP), no
mês passado, e a queda de um
balão no teto da biblioteca do
edifício, bememcima de onde
estava a instalação. Não sobroufoto
sobre foto.
Passados 36 dias do incidente,
omural de oito metros voltou
a ser exibido anteontem,
no CCSP. Nele estão as fotos
dos 12 motoboys de São Paulo
escolhidos pelo artista plástico
catalão Antoni Abad para o
projetoZexe.net.
Com uma câmera de celular
na mão, fornecida pelo artista,
e um capacete na cabeça, eles
registram o cotidiano da cidade
por meio de fotos e vídeos
—oresultado é disponibilizado
em tempo real no site
www.zexe.net/SAOPAULO.
Abad já realizou o mesmo
projeto com prostitutas em
Madri, deficientes físicos em
Barcelona, ciganos em León
(cidade da Espanha), taxistas
noMéxico emigrantes nicaraguenses
na Costa Rica.
Para ele, o projeto é uma
possibilidade de modificar a
“imagem ruim” que a sociedade
temdos motoboys. “Emgeral,
os motoboys sempre aparecem
com uma imagem negativa.
Ao se expressarem, eles
estão criando uma nova representação
delesmesmos.”
A continuidade do projeto,
como ocorreu em Barcelona,
onde os deficientes físicos fotógrafos
fundaram uma ONG,
é outro ponto de orgulho para
Abad. “Os motoboys também
estão se organizando, discutindoemprol
dacategoria.”
EliezerMuniz, 40, ex-motoboy
e curador-adjunto do projeto,
afirma que um dos méritos
do canal*MOTOBOY é ter
agregado profissionais que
têm, em comum, a vontade de
ver a atividade regulamentada
—segundo a Prefeitura de São
Paulo, existem hoje cerca de
120 mil motoboys na cidade.
Rotas
Desde que começou a fotografar,
em abril deste ano, o
motoboy Luiz Fernando Bicchioni,
37, mantém a câmera
do celular sempre ligada. Ele já
registrou momentos inesperados.
“Umavez vi umacidente e
parei para fotografar. Quando
me dei conta, vi que meu cunhado
estava envolvido.”
Adriana Maria de Oliveira,
30, única mulher do grupo,
conta quemudou seu olhar sobre
a cidade. “Depois que passei
a registrar odia-a-dia, vi como
tem muita coisa errada,
tanto por parte dos motoristas
como dos motoboys. A rivalidade é
grande.”